A preocupação manifestada pela ministra da Saúde, na entrevista ao DN e TSF, com a fuga de médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para o sector privado, que considera "muito preocupante", tem cada vez mais razão de ser. Entre 2006 e meados de 2007 , o Sindicato Independente dos Médicos estimava que, entre pedidos de licença sem vencimento (que podem durar até dez anos) e desvinculações da função pública, tenham sido cerca de 400 os médicos a abandonarem o SNS. Haverá ainda a contabilizar a aposentação, em alguns casos antecipada, de 400 clínicos, só em 2006, sendo que destes uma parte desconhecida terá ido trabalhar para o sector privado, como alertou o dirigente daquele sindicato Carlos Arroz.
A ministra Ana Jorge afirmou-se empenhada em suster o elevado ritmo de saídas nos últimos anos, garantindo que a sua equipa vai "conseguir não só ganhar alguns de volta", como "impedir que saiam tantos". Para isso, aposta em algumas alterações: "O serviço Nacional de Saúde tem de se reformular e formar a área profissional dentro do sistema para garantir que os melhores possam sentir dentro da carreira pública a sua capacidade profissional a desenvolver-se".
Palavras que vão ao encontro da posição do bastonário da Ordem dos Médicos: "partilho da preocupação da ministra, porque continuam a empurrar-se os médicos para fora do SNS, que, muitas vezes, saem não tanto pelo que podem ganhar no privado, mas porque se sentem insultados com medidas estúpidas". Um exemplo foi " a introdução do relógio de ponto que, só por si, foi responsável pela debandada de uma dezenas largas , mesmo centenas de médicos", afiançou.
Em declarações ao DN, Pedro Nunes considera que a única maneira de a ministra conseguir suster a saída é através de "salários justos e medidas de carácter afectivo e melhores condições de evolução na carreira". Já quanto ao objectivo de trazer de volta alguns profissionais do sector privado, esse desafio apresenta-se "muito mais difícil", concluiu.
Também o dirigente do Sindicato Independente dos Médicos , Carlos Santos, considera que a única maneira de travar o êxodo dos clínicos para o sector privado é através de "uma justa política de incentivos, que ainda não está suficientemente generalizada no universo hospitalar". Mas também alterando a forma de funcionamento e organização dos hospitais. Aquele dirigente sindical considera que "com a carência de médicos em especialidades como oftalmologia, imagiologia, dermatologia ou mesmo medicina geral e familiar, é difícil manter profissionais com estas especialidades, sem programas de incentivos adequados".
Portugal tem cerca de 30 mil médicos inscritos na Ordem dos Médicos, sendo que cerca de 24 mil exercem na esfera do SNS, não necessariamente em regime de exclusividade.
Mas não há consenso quanto à adequação deste contingente de profissionais às necessidades do País. Ana Jorge afirmou na entrevista que o País precisa de mais médicos. O mesmo diagnóstico foi igualmente traçado pelo anterior ministro da Saúde Correia de Campos, quando disse que era preciso formar dois mil médicos por ano e só se estava a formar 1500, o que vai gerar problemas no curto e médio prazo.
Mas, para o bastonário, "o número de alunos nas faculdades é suficiente para os próximos quatro ou cinco anos". O problema, sublinhou, "é que se não mantemos os profissionais mais graduados no SNS, os jovens não vão ter ninguém para os formar".
Por Carla Aguiar, Jornal DN, 07.04.2008
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